Meditação: a arte de bem dizer

“Bendizei a Deus nas congregações” (Salmo 68.26)

Vivemos um tempo no qual a palavra de gratidão não flui naturalmente de nossas bocas e lábios. A dinâmica da cidade, as exigências da vida, as condicionantes do trabalho, as inúmeras coisas sempre por fazer, etc, colocam por sobre as pessoas uma carga enorme. E carga faz a seriedade ficar estampada no rosto e a preocupação ganha o lugar da alegria e da gratidão.

Ser pessoa cristã em nosso tempo é dar-se conta de que somos lançados para dentro deste mundo vil, hostil, que quer nosso tempo, talento, força e dedicação. Mas é dar-se conta também de que não somos nascidos para cumprir esta agenda louca. Não somos nascidos para cumprir a agenda que outros nos colocam ou para garantir a sobrevivência de um sistema pura e simplesmente – sistema que pede sempre mais, sempre mais e sempre mais de nós, pede crescimento, crescimento e crescimento sem fim. Parafraseando Cristo podemos dizer: é preciso dar-se conta de que o trabalho está para o ser humano, não o ser humano para o trabalho; o sistema existe para facilitar a vida do ser humano, não para escravizá-lo. Tudo o que inverte esta lógica é colocar-se a serviço de um sistema capitalista que escraviza a vida das pessoas. É a escravidão moderna.

Entre o povo do Sri Lanka aprendi que precisamos ter paciência. Que devemos partir do pressuposto de que o outro é responsável. Se alguma tarefa não foi cumprida, foi por que realmente ele não conseguiu cumpri-la. Não há o pressuposto da maldade no não feito. Isto torna a sociedade mais leve; mais tranquila; com pensamentos menos hostis de um em relação ao outro. Há o pressuposto de um pensamento de paz e bondade em relação ao outro. Tanto no que foi feito como no não feito.

Aqui está escondida a arte do bem dizer. Do ouvir e acolher em bem o que o outro fez ou deixou de fazer. Há uma razão para o não feito e esta não é necessariamente pautada pela maldade pura e simplesmente. Há uma limitação humana ou mesmo uma incapacidade de tempo, de dom, ou condicionantes diversas – que precisam ser compreendidas. Testemunhei, em poucos dias, uma sociedade bem menos estressada do que a nossa. Em minha meditação conclui: é a arte de acolher em bem também a limitação do outro. Bem dizer (falar bem de) alguém mesmo quando algo não deu certo, ou “ele nos deixou na mão”, é uma verdadeira arte – a arte do coração puro, do pensamento bom em relação ao irmão, do compreender as coisas da melhor forma possível. Fale bem de Deus; fale bem do irmão e da irmã.

Animo você a agir assim. Este foi o jeito Cristo. Que seja o teu também. Amém.

multidão

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